terça-feira, 8 de março de 2016


História da Magia


Eliphas Levi, Res. Ligia Cabus
historialevi.jpgA História da Magia, de eliphs Levi conta a evolução do ocultismo permeando a filosofia, a religião, a matemática a arte e os acontecimentos sociais segundo o ponto devista desde renomado autor.  Começando de um ponto de partida fabuloso entre as lendas e mitologias dos povos antigos Levi avança até meados do século XIX em sua narrativa. Aqui este tomo foi resumido e comentado por Lígia Cabus em outro excelente trabalho que será de grande valia para os estudantes de hoje.
Eliphas Levi lembra logo de início que há muito tempo que se vem confundindo a Magia com o prestígio dos charlatães, com as alucinações dos doentes e com os crimes de certos malfeitores excepcionais. Porém, a magia é a ciência exata e absoluta da Natureza e de suas leis. A Magia é a ciência dos antigos magos. A tradição dá ainda a estes magos o título de reis, porque a iniciação à Magia constitui a verdadeira realeza: a arte real ou o Sanctum Regnum (Santo Reino). A Magia era a ciência de Abraão e de Orfeu, de Confúcio e de Zoroastro. Os dogmas da magia foram esculpidos sobre as mesas de pedra de Enoch e Zoroastro. 
Tudo o que a Natureza fez de inferior ao homem ela submete ao homem, a quem cumpre engrandecer seu domínio. Assim, a extensão e mesmo a perpetuidade da vida, a atmosfera e suas borrascas, a terra e seus veios metálicos, a luz e suas miragens prodigiosas, a noite e seus sonhos, a morte e seus fantasmas, tudo isso obedece ao cetro real do mago. O adepto se faz rei dos elementos, transformador de metais, árbitro das visões, diretor dos oráculos, senhor da vida.

PARTE I - AS ORIGENS MÁGICAS
Mitos e Fábulas

Eliphas Levi é um ocultista ocidental, de formação católica e especialmente interessado na Cabala e na teologia judaica. Em sua História da Magia, as origens da ciência dos encantamentos é diretamente relacionada ao episódio da Queda dos Anjos, tomando como referência o Livro de Enoch, um livro hebraico que não foi incluído no canon (reconhecidos como escritura sagrada), um texto antigo que também não consta nas Bíblias oficiais sendo, portanto, um escrito apócrifo. O Livro de Enoch permaneceu desconhecido na Europa durante mil anos até que alguns exemplares, escritos em língua etíope, foram encontrados na Abssínia, atual Etiópia (BLAVATSKY, 2003, p 89). Neste livro, os segredos da magia são transmitidos aos homens por anjos rebelados. Diz o Enoch, no começo de seu relato:

Houve anjos que se deixaram cair do céu para amar as filhas da Terra. Seu chefe era Samyasa e foram duzentos deles que desceram sobre as montanhas de Armon ou Montanha do Juramento. Eles tomaram esposas com as quais viveram, ensinando-lhes a Magia, os encantamentos e a divisão das raízes e das árvores. Amazarac ensinou todos os segredos dos encantadores. Barkaial foi o mestre dos que observam os astros; Akibeel revelou os signos e Azaradel, o movimento da Lua.

Outro livro obscuro, O Livro da Penitência de Adão, apresenta uma outra origem para a Magia: morto Abel, Caim foi banido, condenado a "vagar pela Terra". Adão e Eva tiveram outro filho: Set, que teria se retirado com sua família para o Oriente onde foi o precursor da Magia Branca ou Magia dos Iniciados. Enquanto isso, Caim inventava a Magia Negra na Índia, o "país do fraticídio", e punha a maldade ao serviço da impunidade. Também no Livro de Nod, Caim é o primeiro Mago Negro, iniciado diretamente por Lilith, primeira mulher de Adão, também banida do Éden por sua rebeldia, amaldiçoada e iniciada na feitiçaria pelo Anjo caído Samael, geralmente identificado com a serpente do Paraíso e portanto responsável pela "má idéia" do pecado original.
Mais antigas e fabulosas ainda são as teorias que localizam as origens da Magia na cultura da Civilização Atlante, que desapareceu com suas terras e riquezas engolidas pelos terremotos e maremotos, um castigo, determinação Cármica desencadeada pelo uso indevido justamente das Ciências da Magia, desviadas para usos profanos, criminosos e aviltantes da condição humana. Neste caso, também os Atlantes foram instruídos por mestres divinos, "Anjos Caídos", o que faz suspeitar que os relatos cristãos e judeus são uma herança de tempos muito recuados na história da Raça ou das Raças humanas. 

Magia do Oriente Médio: Irã e Mesopotâmia


Neste capítulo, Eliphas Levi começa a traçar um panorama cronológico e cultural das práticas mágicas. Entretanto, o texto do mestre ocultista deixa muitas lacunas de natureza histórica além de ser estruturado de maneira confusa. Por esta razão, este estudo procura ordenar e complementar o conteúdo de História da Magia.
No Ocidente, a escrita surgiu há cerca de 5.000 anos, entre os povos mesopotâmicos, marcando o início da história propriamente dita, história preservada em registros onde são encontradas as primeiras referências documentadas sobre práticas mágicas. Os sumérios são o povo mais antigo a ocupar as terras entre os rios Tigre e Eufrates. Sua cultura influenciou as civilizações que vieram depois: assírios, caldeus, hebreus. Toda a magia da Mesopotâmia, assim como no Egito, tem sua origem enraizada nas mitologias relacionadas à Cosmogênese, sobretudo, à Antropogênese.
Cada povo tem suas tradições mas o estudo comparado sugere uma origem comum. São histórias aparentemente diferentes mas todas que têm a figura de um Deus criador do Universo, da Terra e da humanidade e um Grande Iniciador, um Mestre Divino ou vários deles que promoveram a evolução da Raça Humana transmitindo, a discípulos escolhidos, conhecimentos em diferentes áreas da Ciência: da agricultura à metalurgia, da escrita a astronomia. Estes Iniciados escolhidos foram os primeiros Magos do mundo, uma elite de Sacerdotes e líderes políticos, o que explica a Teocracia predominante nem todos os grandes Impérios Antigos, quando os reis eram considerados representantes ou mesmo encarnações de uma divindade.
Estudos arqueológicos indicam:
"...que a religião foi a força que impulsionou a transformação de povoados em cidades. Os soberanos da região consideravam-se representantes dos deuses e uma parte importante de seus deveres consistia em conduzir cerimônias destinadas a prevenir o mal e ganhar a boa vontade das divindades. Existiam também diferentes tipos de sacerdote em funções diferentes: administração mas também os conjuros, os exorcismos, os augúrios etc.. Além da devoção aos deuses havia a crença em seres sobrenaturais bons e maus: demônios, espíritos, espectros. Julgava-se que alguns demônios eram responsáveis pelas doenças e outras desgraças." GRANDES IMPÉRIOS, 1997 - Mesopotâmia vol. I, p 74
"Mágica e religião para os povos da Antiga Mesopotâmia eram partes inseparáveis de um mesmo todo, pois tanto uma quanto a outra eram vistas como o traço de união entre a realidade física e palpável e as esferas mais sutis da existência. Daí por que quase todas as invocações e encantos grafados em escrita cuneiforme em geral contém a expressão "Pelo Duranki", ou seja, pela união de Céu e da Terra. Era através da mágica, por outro lado, que os mesopotâmicos antigos procuravam entender o universo como uma realidade animada e multifacetada, sendo que a prática das artes mágicas visava fundamentalmente tentar afetar fatos ou prever acontecimentos da vida real e do mundo físico. A distinção entre mágica e religião, portanto, fica cada vez mais tênue neste contexto, porque a prática de mágica na Mesopotâmia era praticar religião, uma vez que as artes mágicas eram postas em prática por sacerdotes e sacerdotisas especializados para os mais diversos fins. Portanto, neste contexto, a religião também era vista como um ato mágico". BABILÔNIA BRASIL, 2005

Na antigüidade, o que hoje denomina-se Magia, não somente se confundia com a religião mas também dominava a área do conhecimento científico. Na medicina, a física e a metafísica aliavam-se a fim de obter a cura de um paciente. Acreditava-se que muitas doenças tinham causas sobrenaturais: deuses, espíritos, demônios etc.. e cada entidade era relacionada a moléstias determinadas, a afecções que atingiam certas partes do corpo. Uma dessas entidades é Lamashtu, um terrivel demônio feminino capaz de provocar anemias profundas, depressão e morte.
Na Mesopotâmia, existiam dois tipos de médico-sacerdote-mago: o Ashipu, fazia o diagnóstico da doença determinando a "assinatura" do espírito ou deus causador do mal. Em certos casos, a doença resultava de algum grande erro ou pecado cometido pelo enfermo. O tratamento consistia então de evocações e encantamentos destinados a apaziguar o espírito causador ou anular a aura negativa do mal feito do paciente. Em questões mais complexas, o próprio Ashipu remetia o doente ao Asu, um especialista em remédios herbáceos, um "físico", como eram chamados. Em caso de feridas em geral, o Asu preparava receitava banhos, fazia bandagens, ataduras, enfaixamentos, preparava e aplicava emplastros e ungüentos.
O rótulo "Magia", tantas vezes usado pejorativamente em relação às práticas científicas dos Antigos deve-se, em parte ao desconhecimento da terminologia usada na época. Na tábuas cuneiformes encontradas em sítios arqueológicos há grandes listas de plantas e outras substâncias terapeuticas, porém seus nomes tornam quase impossível identificá-las quando não confundem o leitor com suas denominações exóticas que remetem ao universo da feitiçaria folclórica como: "gordura de leão" ou "fogo da terra", por exemplo. Entre substâncias que foram identificadas, muitas revelaram ser apenas extratos vegetais, resinas ou condimentos, temperos comuns como pimenta, cominho, hortelã, alho etc.. Plantas que até hoje são utilizadas in natura ou na composição de antibióticos, anti-inflamatórios, antipiréticos, cicatrizantes.
Pérsia: Os persas são um dos povos mais misteriosos da Antigüidade. Os livros de história do Mundo e as enciclopédias temáticas escritas no Ocidente, em geral, dedicam muito pouco espaço a esta civilização ( e o mesmo ocorre em relação a outras nações como as africanas e as orientais: Índia, China, Japão). A desinformação começa com as datas incertas: alguns dizem que este povo "apareceu" no Planalto Iraniano por volta de 2.000 a.C.; outros encontram os rastros desta civilização e de sua cultura no século XV a.C., como nestes trechos da História Geral de Souto Maior e da História da Civilização Ocidental, de MacNall Burns:
"A partir de meados do segundo milênio antes de Cristo, apareceram no noroeste do Planalto Iraniani novos povos indo-europeus, mais tarde conhecidos como medos e persas." (SOUTO MAIOR, 1976 - p 43)
"Pouca coisa se conhece dos persas antes do século VI a.C.. Até essa época parece terem levado uma existência obscura e pacífica na costa oriental do Golfo Pérsico. [Entretanto, mais adiante, escreve o mesmo autor sobre a religião dos persas] ...A influência mais duradoura deixada pelos antigos persas foi, sem dúvida, a religião. As raízes desta religião podem ser encontradas em época tão remota como o século XV antes de Cristo." (MacNALL BURNS, 1975 - p 97)
Estas contradições mostram a grande confusão em se encontram os historiadores sempre que se fala das origens das culturas mais antigas, que são as orientais. Os persas dos livros de história, cuja existência somente começa a ter registro há poucos milênios antes de Cristo, são um povo, cultura, nação, que vinha se formando ao longo de um processo demorado que consumiu pelo menos 5 mil anos. As pesquisas mais recentes indicam que os persas têm uma origem comum com os indianos; eles foram os proto-indo-iranianos, da etnia dos indo-europeus. Sacerdotes, guerreiros e pastores semi-nômades provenientes das estepes do sudeste da Rússia (CULTURE OF IRAN, 2005) que, em torno de 3.000 a.C., fixaram suas tribos a leste do rio Tigre. Eram duas nações irmãs, como evidenciam estudos da língua, derivada do sânscrito. Os Medos, se estabeleceram no deserto ao sul do Mar Cáspio enquanto os persas ocuparam terras ainda mais ao sul, às margens do Golfo Pérsico.
A herança mágica dos persas está dispersa, misturada à magia dos mesopotâmicos, egípcios, gregos, árabes e hebreus. O sincretismo foi mútuo porém as crenças dos "parses" deixaram um legado poderoso que pode ser identificado em doutrinas teológicas do passado e do presente. Um bom indicativo desta forte influência é a própria palavra "Mago" ou "Magus", que deriva da língua dos persas onde é designativo da condição de sacerdote. O persas mais antigos diziam "Magi", os mais modernos, do tempo do império, eram os "Magusk", significando "homem sábio". Os gregos adotaram o termo e diziam "Magéia" para se referir às artes de um mago (URBAN, 2002). As práticas mágicas da Pérsia possuíam uma tradição das mais remotas, com origens recuadas até o neolítico de onde vieram os Cultos da Luz, do Fogo e da Água. O precursor desta magia é o mítico Zoroastro ou Zaratustra.
Zoroastro, apontado como o grande Iniciador da magia não é um indivíduo; antes, muito provavelmente, Zoroastro é um nome simbólico como Toth ou Hermes e há vários Zoroastros mencionados nos anais da história persa. Eudóxio e Aristóteles situam sua vida há seis mil anos antes de Cristo. Sua história é envolta em mistério porém:
"os dogmas do verdadeiro Zoroastro são os mesmos da pura Cabala e suas idéias sobre a divindade são as mesmas que as dos Pais da Igreja. Apenas diferem os nomes: Zoroastro chama Tríade o que chamamos de Trindade. As três pessoas divinas, ele chama de as Três Profundidades. A Profundidade primeira ou Paternal é a fonte de Fé; a Segunda ou Profundidade do Verbo, é a fonte da Verdade; a terceira ou Ação Criadora, é a fonte do Amor." (LEVI, 2004 - p 58)
O Zoroastro histórico viveu no século VI antes de Cristo e a ele é atribuída a ordenação de tradições e crenças populares da religião Mazdeísta, em uma outra religião, um mazdeísmo reformado, estruturado na doutrina chamada zoroastrismo. Sobre os mistérios do fogo, escreveu Zoroastro em seus Oráculos:
"A Natureza nos ensina por indução que existem demônios incorpóreos ...O fogo sempre agitado e movendo-se na atmosfera pode tomar uma configuração semelhante à dos corpos. Digamos melhor, afirmemos a existência de um fogo cheio de imagens e ecos. ...E quando vires brilhar este fogo incorpóreo, este fogo sagrado cujas flechas atravessam as profundezas do mundo, ouve o que ele te dirá!" (LEVI, 2004 - p 60)
Este "fogo" a que Zoroastro se refere é a luz astral "com sua força configurativa e sua potência para refletir o verbo e repercutir a voz" e o conhecimento da Luz Astral era o começo da iniciação mágica. O adepto que se tornava capaz de "ler" na luz astral tornava-se vidente.

...Depois, tendo posto sua vontade em comunicação com essa luz, aprendia a dirigi-la como se dirige a ponta de uma flecha; ele podia então provocar perturbação ou paz nas almas, comunicava-se à distância com outros adeptos, apoderava-se desta força que é representada pelo leão. É o que significam as antigas figuras encontradas em sítios arqueológicos onde aparecem o leão ou outra fera subjugados diante de um gesto do Mago, bem como as esfinges com corpos de leão e cabeças humanas." (LEVI, 2004 - p 62)

Magia na Índia


Neste capítulo, o brilhante ocultista de Dogma e Ritual da Alta Magia se perde na superficialidade e no preconceito. Como historiador da Magia, Levi mostra desconhecimento arqueológico, mitológico, lingüístico, semiótico e teológico. O texto é limitado a uma cultura que não vai além das tradições ocidentais e, como o autor é estudioso da Cabala judaica, enaltece este sistema desvalorizando conhecimentos mais antigos ou simplesmente ignorando a existência desses conhecimentos.
Em relação à Índia, o preconceito de E. Levi é evidente tomando o exotérico por esotérico, apresentando crenças populares e folclore como se fossem a verdadeira face do ocultismo dos bramanes e dos budistas. Usando dois pesos e duas medidas, o Mago ocidental sabe reconhecer simbolismo e alegoria nas escrituras judaico-cristãs mas toma ao pé da letra as metáforas dos livros indianos. Na História da Magia de Levi, a Índia é "...sábia mãe de todas as idolatrias" onde prospera a "deificação do diabo" e a Santíssima Trindade é substituída pela "terrível trimurti dos brahmas" composta "de um criador, um destruidor e um reparador" (Brahma, Vishnu e Shiva). "É a Cabala profana; por isso, longe de fortificar a alma, aproximando-a da suprema sabedoria, o bramanismo conduz o espírito aos abismos da loucura." (LEVI, 2004 - p 67)

"A Índia, que a tradição cabalística nos diz ter sido povoada pelos descendentes de Caim ...a Índia é, por excelência, o país da Goécia e dos prestígios. Lá se perpetuou a Magia Negra com as tradições originais do fraticídio". Para Eliphas Levi, todas as tradições indianas são resumidas em uma idéia: panteísmo e "a consequência desse panteísmo é a destruição de toda moral; não há mais crimes nem virtudes num mundo onde tudo é Deus. O livro do ocultismo indiano, o Oupenek'hat é o tronco de todos os engrimanços... Este livro é dividido em cinqüenta seções: é uma sombra misturada com clarões... por exemplo, nas seções 11 e 48:
"O anjo do fogo criador é a palavra de Deus. A palavra de Deus produziu a terra e os vegetais que brotam dela e o calor que os alimenta. A palavra do Criador é o Criador e ela é o seu filho único (o Logos). ...Não sendo a matéria mais que uma aparência enganadora, o sol, os astros, os elementos mesmos são gênios, os animais são demônios e o homem um puro espírito enganado pelas aparências dos corpos.
Para tornar-se Deus é preciso reter seu alento. Isto é, atraí-lo o maior tempo possível e dele encher-se abundantemente (INSPIRAÇÃO). Em segundo lugar, guardá-lo o maior tempo que puder e pronunciar quarenta vezes, neste estado, o nome divino AUM. Terceiro, expirar também muito vagarosamente... Neste exercício, é preciso tornar-se cego e surdo, e imóvel como um pedaço de pau. ...Com um dedo fecha-se um buraco do nariz e inspira-se com o outro. Retém o ar e então, mergulha no pensamento de que Deus é o criador, que está em todos os animais, na formiga como no elefante. Expira, mui devagar emitindo o som divino, AUM, ...Fazei isso durante três meses, sem temor, sem preguiça, comendo e dormindo pouco; no quarto mês os Devas se fazem ver a vós; no quinto mês tereis adquirido as qualidades dos devatas; no sexto estareis salvos, vos vos tereis transformado em Deus." (LEVI, 2004 - p 69)
"É evidente que no sexto mês o fanático bastante imbecil para perseverar em tal prática, estará morto ou doido. ...O emprego graduado de narcóticos ou de uma gama de discos coloridos produz efeitos análogos aos que descreve o feiticeiro indiano. ...Todas essas práticas (contidas no Oupenek'hat ) são dolorosas e perigosas tanto quanto ridículas e não as aconselhamos a ninguém; mas não duvidamos que elas produzam, num espaço de tempo mais ou menos longo, conforme a sensibilidade dos indivíduos, o êxtase, a catalepsia e o esvaimento letárgico. Para obter visões, para chegar aos fenômenos da segunda vista, é preciso por-se num estado que seja como o sono, morte ou loucura. É nisto, sobretudo, que os indianos são hábeis."
(LEVI, 2004 - p 71)

Chega a espantar que Eliphas Levi tenha escrito de forma tão ofensiva sobre estas práticas iogues que, com outras palavras, são reescritas e recomendadas por ele próprio e por outros estudiosos ocidentais, quando falam de meditação. Nada há de imbecil ou de loucura em exercícios respiratórios, hoje reconhecidamente benéficos para o equilíbrio do corpo e da mente. São exercícios que, no mínimo, induzem o espírito a um estado de profunda calma, efeito comprovado pela observação científica contemporânea. Em Tratado Elementar de Magia Prática, o ocultista Papus, que também era médico, escreve:
O ritmo respiratório age sobre os centros nervosos de maneira notável. A inspiração rápida age como excitante; a inspiração lenta e sobretudo a expiração prolongada e espaçada, acalmará os centros nervosos. ...O pulmão e o coração podem ser considerados como duas rodas com engrenagens entrosadas uma na outra, o que faz com que o aumento do ritmo respiratório seja reproduzido no ritmo cardíaco com reflexos em todo o sistema circulatório. A respiração é, pois, o dispositivo mecânico-orgânico que restabelece o equilíbrio dos fluxos sempre que este equilíbrio se perde por um distúrbio qualquer. (PAPUS, 1995 - p 145/146)
Sobre o Oupnek'hat, continua Eliphas Levi:
Mas não ficam aí os segredos mágicos do Oupnek'hat; existe um que o hierofante tenebroso confia a seus iniciados como grande e supremo arcano ...Eis como se exprime o autor do livro indiano: ..."Qualquer que seja o pecado que cometa, a má obra que faça, ele não é nunca culpado. Ainda que fosse duas vezes parricida, ainda que matasse um bramane iniciado nos Vedas, qualquer coisa que cometa enfim, sua luz não diminuirá, porque, disse Deus, 'Eu sou a alma universal, em mim estão o bem e o mal que se corrigem um pelo outro. Aquele que sabe disso não será nunca um pecador; ele é universal como Eu.' ...O grande arcano do Oupnek'hat é, desta forma, absoluto em imortalidade, em fatalidade e em quietismo mortal.

Isso é tudo que Eliphas Levi tem a dizer sobre a História da Magia na Índia. É uma exposição superficial, superticiosa e preconceituosa que ignora as escrituras sagradas da Índia, nada explica sobre os Vedas e os Puranas nem mesmo para fazer uma referência a obras importantes como a Bagavad Gita, as conferências de Buda Sakyamuni e a teosofia baseada na Doutrina Secreta dos Livros ou "Estâncias" de Dzyan, que foram minuciosamente estudados por Helena Petrovna Blavatsky. 

Magia Hermética: Egito


É no Egito que a magia se completa como ciência universal ...nas poucas sentenças da doutrina gravada na Tábua de Esmeralda, atribuída a Hermes Trimegisto (Três vezes Mestre); ...[são dogmas que afirmam] ...a unidade do Ser e a unidade das harmonias, ...a lei imutável do equilíbrio e o progresso proporcional das analogias universais, o Verbo como mediador entre o Criador e a criatura.
"O superior é como o inferior e o que está embaixo é como o que está em cima para formar as maravilhas da coisa única." A sabedoria do Hermes egípcio revela e descreve a LUZ ASTRAL, que é o agente criador, é o fogo pantomorfo. Ensina Hermes que esta luz é uma força, uma alavanca (capaz de ação mecânica), é um princípio criador (coagulador), que dá forma às coisas e, ao mesmo tempo, é o aquele que dissolve o todo em nada. Outras obras são atribuídas a Hermes Trimegisto: Pimandro, Asclépio, Minerva do Mundo etc..
As ruínas do Egito são como páginas esparsas de um livro. Templos e pirâmides guardam, em sua estrutura e situação, a sabedoria dos tempos antigos. A divisão mesmo (geográfica) do Egito era uma síntese mágica: ...o Alto Egito ou Tebaida, representa o mundo celeste, pátria de êxtases; o baixo Egito simboliza a Terra e o Egito Médio ou Central, é o país das ciências e das iniciações. O Egito era um grande livro cujos ensinamentos estavam escritos em toda parte, na linguagem codificada da pintura, escultura, arquitetura, em todas as cidades, em todos os templos.
O Egito é o berço das ciências e da sabedoria. ...A arte sacerdotal e a arte real ali formavam adeptos pela Iniciação, que era restrita como privilégio de casta (como na Índia). Viu-se um escravo hebreu iniciar-se e atingir a posição de primeiro ministro (José, da Bíblia). ...É sabido que José deveu sua elevação [social] à sua capacidade de interpretar sonhos. ...A ciência de José não era senão a inteligência [conhecimento] das relações naturais que existem entre as idéias e as imagens, entre o Verbo e suas figuras. Ele sabia que durante o sono, a alma mergulhada na luz astral, vê os reflexos de seus pensamentos mais secretos e mesmo de seus pressentimentos; ele sabia que a arte de traduzir os hieróglifos do sono é a chave da lucidez universal, porque todos os seres inteligentes têm revelações em sonhos.

TARO

No 'alfabeto' hieroglífico todos os deuses eram letras, todas as letras eram idéias, todas as idéias eram números, todos os números eram sinais perfeitos. ...Este alfabeto, dizemos nós, é o famoso livro de Thot, que Court de Gébelin suspeitou ser conservado até hoje sob a forma deste jogo de cartas que se chama tarot. ...[Entretanto] o Tarot que temos é de origem judaica e os tipos das figuram não remontam além do reino de Carlos XII. O jogo de cartas de Jacquemin Gringonneur é o primeiro tarot que conhecemos, mas os símbolos que ele reproduz são da mais alta antiguidade.

Conta-nos Moisés que os israelitas, ao saírem do Egito, conduziram os vasos sagrados dos egípcios. Esta historia é alegórica... Estes vasos sagrados são os segredos da ciência egípcia que Moisés aprendera na corte do Faraó. [Na época do Êxodo], a verdadeira ciência perdia-se no Egito, embrutecendo-se em práticas de idolatria. O vulgo imbecil [o povo, ignorante] tomou por realidades vivas as formas hieroglíficas de Osiris e Hermanubis. Osiris tornou-se um boi e o sábio Hermes, um cão.
LEVI - p 73 


Magia da Grécia


Este capítulo começa com vários parágrafos de pouco valor histórico. O autor perde-se em considerações literárias para informar que, na Grécia, os grande precursores da Magia, em termos de tradição mitológica, foram Orfeu e Cadmo, conforme o texto a seguir:
Aos cantos poéticos de Orfeu abrandam-se os rochedos, desenraizam-se os carvalhos e os animais selvagens submetem-se ao homem. ...Foi Orfeu que deu vida aos números, foi Cadmo que ligou o pensamento aos caracteres (Cadmo, personagem mítico, é considerado o inventor da escrita na Grécia). ...Cadmo é um exilado [sua origem é Tebas, Egito] ...Ele trás para a Grécia as letras primitivas e a harmonia que as reúne.
A fábula do Tosão de Ouro liga a Magia Hermética (Egípcia) às Iniciações gregas. Tudo nesta lenda é alegoria, como o Navio dos Argonautas cujo correspondente egípcio é o Barco dos Mistérios de Isis, arca das sementes e da renovação. [Na lenda] ... A ciência é ainda uma vez traída por uma mulher: Medéia. Esta história da antiguidade grega encerra a epopéia das ciências ocultas. Depois da Magia hermética vem a Goécia, parricídio, fraticídio, infanticídio, sacrificando tudo às suas paixões e não gozando nunca do fruto de seus crimes. Medéia traía seu pai, como Cam (filho de nóe); assassina seu irmão, como Caim. Ela apunhala seus filhos, envenena sua rival e só recolhe o ódio daquele por quem queria ser amada, Jasão.
Prometeu, O Tosão de Ouro, a Tebaída, a Ilíada e a odisséia, cinco grandes epopéias todas cheias de mistérios da natureza e dos destinos humanos compõem a Bíblia da antiga Grécia... A fábula de Orfeu é toda um dogma. Ele é um poeta. Sua amada morre e ele não é capaz de resgatá-la do Hades. Orfeu sente-se viúvo e tendo no coração uma ferida que só a morte poderá curar, faz-se médico das almas e dos corpos; enfim, morre vítima de sua castidade; morre a morte dos iniciadores e profetas, depois de ter proclamado a unidade de Deus e a unidade do amor. Orfeu passou à história com fama de feiticeiro e encantador. Aele se atribui, como a Salomão, o conhecimento dos elementos simples e dos minerais, a ciência da medicina celeste e da pedra filosofal. Assim se resume a Iniciação Órfica:
O homem, depois de ter sofrido a influência dos elementos deve fazer sofrer aos elementos sua própria influência.
A criação é o ato de um magismo divino, contínuo e eterno. Para o homem, Ser é, realmente, conhecer-se.
A responsabilidade é uma conquista do homem, a pena mesma do pecado é um novo meio de conquistas.
Toda vida repousa sobre a morte. A palingenesia (ressurreição) é a lei reparadora. O casamento é a reprodução, na humanidade, do grande mistério cosmogônico. Ele deve ser um como Deus e a naturza são um. O casamento é a unidade da árvore da vida; a devassidão é a divisão e a morte.
MAGIA NEGRA
Dissemos que a primeira parte da fábula do Tosão de Ouro encerra os segredos da Magia Órfica e que a segunda parte é consagrada contra aos da Goecia ou da Magia tenebrosa. A Goécia ou falsa magia, conhecida em nossos tempos pelo nome de feitiçaria, não poderia ser uma ciência; é o emprirismo da fatalidade. Toda paixão excessiva produz uma força que escapa à Vontade, ao contrário, obedece ao despotismo da paixão. Dizia Alberto, o Grande: "não maldigais a ninguém quando estiverdes em cólera". A paixão excessiva é uma verdadeira loucura, uma embriaguês, uma congestão da luz astral.
FEITICEIRAS GREGAS
As feiticeiras entre os gregos, e especialmente na Tessália, praticavam horríveis ensinamentos e abandonavam-se a ritos abomináveis. Eram em geral, mulheres perdidas de desejos que já não podiam satisfazer; cortesão envelhecidas, monturos de imoralidade e hediondez. Ciosas do amor e da vida, estas miseráveis mulheres não tinham amantes senão nos túmulos [necrofilia], ou antes, elas violavam sepulcros para devorar de terríveis carícias a carne gelada dos moços. Elas roubavam crianças cujos gritos abafavam, premindo-as contra as mamas pendentes. Eram chamadas lâmias, estriges, empulsas; as crianças, objeto de sua inveja e ódio, eram sacrificadas.
Algumas destas feiticeiras, como Canídia, de que fala Horácio, as enterravam até a cabeça e as deixavam morrer de fome, cercando-as de alimentos que não podiam alcançar; outras, cortavam-lhes a cabeça, os pés e as mãos e faziam reduzir a gordura e a carne dos infantes em bacias de cobre, até obterem um ungüento que misturavam ao suco de meimendro, da beladona e das papoulas negras. Elas enchiam deste ungüento o orgão incessantemente irritado por seus detestáveis desejos, friccionavam as têmporas e as axilas, depois caíam numa letargia cheia de sonhos desenfreados e luxuriosos.
Convém dizer: eis as origens da magia negra, segredos que se perpetuaram até a Idade Média; eis, enfim, que as pretendidas vítimas inocentes da execração pública que a sentença dos inquisidores condenava a morrer nas chamas. Foi na Espanha e na Itália, sobretudo, que sobreviveu a "raça" das estriges, das lâmias e das empulsas; e os que duvidam disto podem consultar os mais sábios criminalistas destes países, reunidos por F. de Torreblanca em seu Epitome delictorium.
Medéia e Circe são dois tipos da magia malfazeja entre os gregos. Circe é mulher viciosa que que fascina e degrada seus amantes; Medéia é a envenenadora apaixonada que a tudo se atreve e faz a própria natureza servir a seus crimes. Há, de fato, seres que encantam como Circe e perto dos quais todos se aviltam; há mulheres cujo amor degrada as almas. Elas não sabem inspirar senão paixões brutais; elas vos enervam e depois vos desprezam. É preciso, como Ulisses, saber subjugá-las pelo temor e depois, deixá-las sem pesar. São monstros de beleza, não têm coração; só a vaidade as faz viver. Na antigüidade eram representadas pela figura das sereias.

Quanto a Medéia, é a criatura perversa, que quer o mal e que o opera. Esta é capaz de amar e não se detém diante do temor; mas seu amor é mais temível que o ódio. Ela é mãe ruim e assassina de criancinhas. Ama a noite e vai clher ao luar ervas maléficas para preparar venenos. Ela magnetiza o ar, leva a desgraça à terra, infecta a água, envenena o fogo. Os répteis emprestam-lhe sua baba; ela murmura terríveis palavras; traços de sangue a acompanham. Seus conselhos endoidecem, suas carícias horrorizam. LEVI, p 85-86
Magia Matemática de Pitágoras 

Pitágoras de Samos, chegou à Itália para fugir à tirania de Polícrate. Ele já percorrera todos os santuários do mundo. Na Judéia, se fez circuncidar para ser admitido nos segredos da Cabala; depois, iniciou-se no Egito com a recomendação do rei Amásis. Seu gênio superou os hierofantes e ele se tornou um mestre revelador. Pitágoras definiu Deus: "Uma verdade viva e absoluta revestida de luz; é a música suprema de que a natureza é a harmonia". Ele dizia que o verbo é o número manifestado pela forma e que tudo tem origem na tetractys, isto é, o quaternário. São idéias pitagóricas: a expressão mais alta da justiça é o culto; o mais perfeito uso da ciência é a medicina; o belo é a harmonia, a força é a razão, a felicidade é a perfeição e a verdade prática é que se deve desconfiar da fraqueza e da perversidade dos homens.
Quando ele se estabeceu em Crotona, a princípio, os magistrados o temeram; depois, o consultaram. Pitágoras aconselhou que procurassem manter a mais perfeita harmonia entre eles mesmos porque são os conflitos entre os senhores que revoltam os servidores e ensinou um grande preceito religioso, político e social: "Não há mal nenhum que não seja preferível à anarquia". Entre os preciosos legados de sabedoria deixados por Pitágoras, os mais populares, até hoje, são os Versos Áureos. Eis um trecho:

Aos deuses, segundo as leis, presta as devidas homenagens
Respeita o juramento, os heróis e os sábios
Honra teus pais, teus reis, teus benfeitores
Escolhe para teus amigos os melhores homens
Seja obsequioso (educado),
seja fácil (objetivo e claro) em seus negócios
Não odeies teu amigo por faltas leves
Serve com teu poder a causa do bom direito
Quem faz tudo o que pode faz sempre o que deve
Porém, saiba o momento de reprimir como mestre severo
os apelos do sono, de Vênus (do sexo e do amor) e da cólera
Não peques contra a honra nem de longe nem de perto
Seja a mais rigorosa testemunha de você mesmo
Seja mais justo em ações e menos em palavras
Não dê pretextos frívolos ao despertar do mal
A sorte que nos enriquece, pode nos empobrecer
Mas fracos ou poderosos, todos morreremos
Não fuja da tua parte nas dores da vida terrena
Aceita o remédio útil e salutar
e saiba que os homens virtuosos
são os menos infelizes entre os mortais aflitos
Resigna teu coração diante de alianças injustas
Deixa falar o mundo e segue sempre teu caminho
e nada faças por pura imitação da ação de um outro
que seja coisa sem retidão e sem utilidade
Recorda os conselhos dos sábios
para reconhecer o absurdo nas encruzilhadas
Não sejas negligente em cuidar da tua saúde
Consome o necessário com sobriedade
Tudo que não pode prejudicar é permitido na vida
Seja elegante e puro sem excitar a inveja
Fuja da negligência mas evite o fausto insolente
O luxo mais simples é o mais excelente
Não procedas sem pensar no que vai fazer
e reflete, todas as noites, sobre toda a sua jornada
Que fiz? O quê ouvi? O quê devo lastimar?

Pitágoras possuía esta faculdade chamada de "segunda vista" ou adivinhação. Um dia ele se achava com seus discípulos à baira-mar quando surgiu um navio no horizonte. Um dos discípulos perguntou: "Mestre, pensais que eu seria rico se dessem a carga deste navio?" Ela vos seria inútil, respondeu Pitágoras. Retruca o discípulo: "Pois eu a guardaria para deixar aos meus herdeiros." Ao que rebateu o sábio: "Quereis então deixar-lhes dois cadáveres?" O navio entrou no porto instantes depois. Trazia o corpo de um homem que queria ser sepultadoem sua pátria. Conta-se que os animais obedeciam Pitágoras. Um dia, no meio dos jogos olímpicos, ele chamou uma águia que atravessava o céu; a águia desceu fazendo giros e continuou seu vôo quando o mestre fez sinal de ir-se embora. Uma ursa monstruosa devastava a Apúlia; Pitágoras a mandou vir a seus pés e ordenou-lhe que deixasse o país; depois disso ela não repareceu mais e como se lhe perguntassem a que ciência devia poder tão maravilhoso, respondeu: "A ciência da luz."
Imortalidade
Pitágoras acreditava ...na imortalidade da alma e na eternidade da vida. A sucessão contínua dos verões e dos invernos, dos dias e das noites, do sono e do despertar, explicavam-lhe assaz o fenômeno da morte. A imortalidade especial da alma humana consistia, na sua opinião, na prolongação da lembrança. Ele pretendia lembra-se ...de suas existências anteriores e ...achava, de fato, alguma coisa semelhante em suas reminiscências.

CONTINUA...

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